Ensino de História Clubes Negros na Escola
Clube Náutico Marcílio Dias

Descrição: Foto em preto e branco de edíficio em formato ginasial, possuindo quatro portas posionadas na frente. A fachada do edíficio possui uma placa com a inscrição Clube Náutico Marcílio Dias. Fonte: PEREIRA, Lúcia Regina Brito. Cultura e afrodescendência: organizações negras e suas estratégias educacionais em Porto Alegre (1872-2002). Tese (Doutorado em História) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
Clube Náutico Marcílio Dias:
O Clube Náutico Marcílio Dias ou “Clube Náutico dos Morenos”, como era conhecido, foi fundado em 04 de julho de 1949, a partir de um convite realizada no Jornal Folha da Tarde, para a organização de um espaço de prática dos “desportos náuticos e terrestres” para as populações negras de classe média da capital gaúcha.
O nome foi escolhido a partir do Marinheiro negro gaúcho que foi herói na guerra do Paraguai, tendo a sua primeira sede em um terreno emprestado e posteriormente doado na Avenida Praia de Belas. Contava com o empréstimo e doações de barcos a remos de outros clubes, com os quais mantinha relacionamentos mais próximos. O Marcílio Dias contava com equipes de diversos esportes, como basquete, voleibol, bocha, ping pong e cestobol. Desde a sua fundação, trazia em seu estatuto entre as suas finalidades, o esporte como centralidade, em práticas de remo, natação e outros desportos náuticos. Como aponta a doutora Lúcia Regina Brito Pereira (2008), o clube também era um espaço de encontros sociais, culturais e festivos. Apesar de ter por objetivo principal a prática de esportes, foi impedido de competir pela Federação Gaúcha de Esportes Aquáticos, assim como pela Federação Gaúcha de Basquete, alternando o seu foco entre disputas esportivas e propostas educacionais.
O Marcílio Dias realizava campeonatos de “Disputa Cultural”, nos quais, segundo a doutora e pesquisadora Stephane Ramos da Costa (2018),
[...] professores e professoras negros interrogavam os participantes com questões de cultura geral, o que movimentava os jovens associados na busca pelos prêmios e medalhas e a “Olimpíada Marciliense” que acontecia anualmente e agregava práticas esportivas ( p.2).
O Clube Marcílio Dias, buscava através da prática cultural e dos esportes, um caminho para a inserção social cidadã e melhores condições de vida de seus associados. A partir da publicação de um jornal, é possível notar a preocupação do presidente do Clube. Em 15 de março de 1956, escrevia, José Fonseca:
Com grande satisfação, verificamos que a procura de matrículas nos bancos escolares está sendo grande; temos visto com otimismo e um senso de humor como elementos considerados recalcitrantes em matéria de "estudo” estão sentindo espontaneamente a necessidade de se transformarem em algo na vida, e sabem eles melhor do que nós que a única via racional para que isto se concretize é a demonstração e o aproveitamento dos conhecimentos adquiridos. Fora disto, é rotina – é conformar-se com o servilismo. Agradecemos sinceramente comovidos as atenções e os estímulos que temos recebido de diversas pessoas, não só do nosso círculo de amizades, mas também de outras procedências. Todas, porém, sintonizando perfeitamente no que tange ao aspecto intelectual dos elementos que trazem ao nascer como herança imutável a cor, que para alguns homens infelizmente é ainda considerada escrava. (PEREIRA, 2008, anexo A, p.9)
Com o aterramento de partes do Lago Guaíba em Porto Alegre, o clube passa a ficar distante mais de 1km da beira das águas, o que acarreta na diminuição de algumas das suas atividades, deixando de oferecer a prática de esportes náuticos e atuando principalmente na realização de bailes. Os herdeiros do dono do terreno do Clube contestaram a doação e conseguiram retomar a propriedade, ocorrendo o encerramento das atividades com a demolição de sua sede.